Em muitas cidades brasileiras, a esperança de mudanças significativas nas eleições municipais rapidamente se transforma em decepção. A razão? Vereadores eleitos que, ao assumir o cargo, parecem sofrer de um mal comum: a síndrome do pequeno poder. Este fenômeno é marcado por políticos que, após a vitória nas urnas, esquecem as promessas feitas durante a campanha e se afastam dos eleitores, imersos em um sentimento de grandeza ilusória proporcionada pelo mandato.
A síndrome do pequeno poder pode ser comparada a um mito clássico, onde o herói, ao receber um amuleto mágico, se torna cego pela própria vaidade. Os vereadores, uma vez eleitos, se veem revestidos de uma autoridade que acreditam ser maior do que realmente é. Essa falsa sensação de poder, muitas vezes, os desvia do propósito original de sua eleição: servir ao povo.
Durante a campanha, as promessas são fartas e as palavras, sedutoras. Os candidatos falam de uma nova era de transparência, proximidade com a comunidade e reformas necessárias. No entanto, ao adentrarem os gabinetes, o discurso muda. A proximidade com a população é substituída por um distanciamento quase institucional. A participação em eventos comunitários, tão comum durante a campanha, torna-se rara. As promessas de resolver problemas locais urgentes, como saneamento básico, educação e saúde, são esquecidas ou adiadas indefinidamente.
A síndrome do pequeno poder transforma os vereadores em figuras quase inatingíveis. A crença de que agora detêm uma influência descomunal faz com que muitos se isolem em círculos restritos, atendendo a interesses particulares e deixando de lado as necessidades reais da população que os elegeu. Esta transformação não é apenas uma traição à confiança depositada pelo eleitor, mas também uma violação dos princípios democráticos que deveriam nortear a política.
A analogia entre os vereadores acometidos pela síndrome do pequeno poder e um herói mitológico vaidoso serve como um alerta. Assim como o herói, que deve aprender a usar seu amuleto para o bem comum, os vereadores precisam lembrar que seu mandato é um instrumento de serviço público, não um trono de poder pessoal. É imperativo que os eleitores mantenham a vigilância e cobrem constantemente os compromissos assumidos, garantindo que os representantes eleitos não se percam em ilusões de grandeza.
A solução para esse problema não é simples, mas começa com uma educação política robusta e a conscientização da importância do voto. Somente com eleitores informados e engajados é possível combater a síndrome do pequeno poder e assegurar que os vereadores permaneçam conectados com a realidade e as necessidades de quem os elegeu. Afinal, o verdadeiro poder reside na capacidade de transformar a sociedade para melhor, e não na ilusão de uma grandeza efêmera.