A decisão de Lula (PT) de manter o sigilo de 100 anos sobre os gastos do cartão corporativo é uma postura que gera grande preocupação, especialmente quando confrontada com as promessas feitas durante sua campanha de 2022, onde o presidente se comprometeu a combater a opacidade e a promover maior transparência no governo. Na campanha, Lula fez reiteradas críticas ao governo Bolsonaro, acusando o antecessor de usar o sigilo de maneira indevida, uma prática que, segundo ele, violava os princípios da boa gestão pública e da transparência que a democracia exige.
No entanto, ao adotar uma postura semelhante, Lula não apenas contradiz seu discurso de campanha, mas também enfraquece a confiança da população nas promessas de ética e governança transparente que foram um dos pilares de sua eleição. Esse movimento tem gerado desconfiança, pois muitas das promessas feitas, como a de reduzir o uso de sigilos excessivos, parecem estar sendo negligenciadas.
Outro dado alarmante é o aumento significativo no número de negativas de pedidos via Lei de Acesso à Informação (LAI). Entre janeiro de 2023 e dezembro de 2024, mais de 3 mil pedidos foram indeferidos, um aumento de 8,4% em relação aos 2.959 pedidos negados no mesmo período do governo Bolsonaro. Esse aumento nas negativas reflete uma tendência preocupante em relação ao uso da transparência, já que o governo de Lula, que se elegeu com o compromisso de reverter esse cenário, tem adotado práticas ainda mais restritivas quanto ao acesso público à informação.
Se isso já fosse problemático, o valor de R$ 38,3 milhões gastos com cartões corporativos sigilosos no período também levanta sérias questões sobre o uso do dinheiro público. Gastos sigilosos dessa magnitude sem a devida explicação ou fiscalização são uma violação clara dos princípios de gestão responsável e transparente com os recursos da União.
Além disso, os gastos de Lula com cartões corporativos ultrapassaram os do governo Bolsonaro, gerando um contraste ainda mais chocante. Nos dois primeiros anos de governo, a média mensal de gastos da Presidência da República foi superior a R$ 1,5 milhão, o que representa um aumento de 10% em relação ao governo anterior. Isso indica que, apesar da retórica de austeridade e do compromisso de melhorar a gestão pública, o governo atual acabou por adotar uma postura mais cara e menos transparente em relação ao uso dos recursos públicos.
Esse aumento de gastos, associado ao sigilo prolongado, alimenta a ideia de que as decisões de Lula podem estar mais alinhadas com uma cultura de opacidade do que com a promessa de mudança. A contradição entre discurso e prática pode minar a confiança do público e comprometer os princípios de boa governança, que são essenciais para fortalecer a democracia e o combate à corrupção.
É importante lembrar que, em democracias consolidadas, a transparência não é apenas uma questão de prestação de contas, mas também de responsabilidade política e ética. Manter sigilos prolongados, especialmente quando se trata de gastos públicos, afasta o cidadão do controle sobre o uso do dinheiro que é arrecadado para o bem comum. Para um governo que se propôs a ser mais aberto, mais democrático e mais ético, esse tipo de decisão contraria os princípios fundamentais da administração pública e da confiança mútua entre governo e sociedade.
Além disso, os gastos exorbitantes com o cartão corporativo em meio a um cenário de dificuldades econômicas e austeridade fiscal podem ser interpretados como um descaso com as necessidades da população, especialmente em um contexto onde muitos brasileiros ainda enfrentam dificuldades financeiras. A percepção pública de que o governo não está utilizando os recursos de maneira responsável pode gerar erosão da confiança nas instituições e na capacidade do governo de atender às demandas da população.
Portanto, a decisão de Lula de manter o sigilo sobre os gastos do cartão corporativo e o aumento das negativas de pedidos de informação são um retrocesso nas promessas de transparência feitas durante a campanha, alimentando uma narrativa de falta de compromisso com os valores de ética e responsabilidade pública. Este cenário exige pressão social e política para que o governo retome o caminho da transparência e da gestão responsável dos recursos públicos, como forma de garantir a credibilidade e a confiança do povo brasileiro.